Da
Pintura de Domingos
…Mas
estas linhas foram provocadas por uma visita que fiz, há dias, ao atelier dum
pintor e desenhista desta nossa amada terra da Póvoa de Lanhoso, chamado
Domingos.
Domingos é um artista muito conhecido,
suas pinturas andam por aí sendo justamente admiradas e da sua assiduidade ao
ofício lembra-se a frase de Picasso, que dizia «que o talento existe, mas que
precisa encontrar-nos trabalhando». Pois parece ser o caso do nosso artista,
sempre em acção, com um domínio muito grande no uso dos pincéis (às vezes habilidade
de mais, vira bicho e come o dono...), tem uma sensibilidade cromática não
habitual, usa bons materiais e emprega-os com grande suavidade, não esgota as
cores puras sem lhes dar um tom domesticado, domina a mão no desenho com
eficácia;…
…Sei
quanto é árduo o trabalho de um artista quando chega a certo ponto de «nom
retour» quando tem que avançar mesmo que seja à custa de morder os próprios
dedos. A arte não divide a cama com mais ninguém, e já não falo em praticar
loucuras como Van Gogh – que nunca na sua vida vendeu um quadro – ou os
exageros de Salvador Dali, cuja ansiedade de se promover era tanta que André
Breton, que baptizou o impressionismo, encontrou um anagrama para seu nome:
AVIDA DOLARS... E já que entramos nesses terrenos minados das artes e seus
valores materiais, pergunto-me porque razão há obras de que o artista jamais se
desfaz? É apenas porque ele acredita em seu talento. É esse o caso do nosso
talentoso Domingos, que como disse Baudelaire, tem na arte «um bem
infinitamente precioso, uma beberagem refrescante e acalentadora, que enche o
estômago e o espírito do equilíbrio natural do ideal» Talvez por isso, na sua
sabedoria curtida nos bons e maus dias, dizia, com muita razão, que «a quem
muito é dado, muito será pedido...» Creio que não pedi nada de mais, a não ser
que seja sempre o que é melhor para o artista...
António Celestino
Sem comentários:
Enviar um comentário